sábado, janeiro 27, 2007

Uma contradição vulgar

Uma contradição comum nos argumentos das pessoas 'pró-vida' (a maioria dos que votarão NÃO) é o dar como (moralmente) correcta a actual lei que permite o aborto em casos 'excepcionais'.

Mas como pode ser isto? O filho que surge após uma violação não é 'vida sagrada' como um filho que resulta da vida dos pais? O feto com problemas de formação não é uma vida tão 'sagrada' como um adulto paraplégico?

Esta contradição assume contornos mais obscuros quando me apercebo que são as pessoas 'pró-vida' na questão do aborto as mesmas pessoas 'pró-morte' na questão da pena de morte. Outra contradição?

A vida é 'sagrada' ou não afinal? Se não, qual o tipo de vida que é 'sagrada' para um católico, por exemplo? (pergunta feita a quem acredita no 'sagrado'.)

Eu acredito que apenas num quadro legal de IVG se poderá diminuir o número de abortos total a médio e longo-prazo (ver Blasfémias e Gisela Nunes). Pessoalmente considero o aborto uma situação muito penosa para uma família (especialmente para a mulher). Contudo tenho de ter coragem para colocar a emoção e moral de parte e substitui-las pela ética, isto é, por aquilo que convém à Humanidade.

7 Comments:

At 9:53 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Sinceramente, muito contraditório é aquilo que escreves tu,porque no fim acabaste por nao dar nenhuma razao que justifique o sim no referendo uma vez que os exemplos que apresentaste ja sao considerados na actual lei (violaçao,mal-formaçao do feto)!Afinal de contas porque é que devemos votar sim???

 
At 1:37 da tarde, Blogger airesff said...

Viva!

É irrelevante o que consta da lei para este post. Relativamente à tua questão: lê o meu post imediatamente abaixo e descobre por ti.
Não estou aqui para fazer campanha.

 
At 3:55 da tarde, Blogger Edgar said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

 
At 1:35 da manhã, Blogger airesff said...

Ed,

Comentários insultuosos não são permitidos no meu blogue e serão apagados. Relativamente à tua observação; não faz sentido nenhum, visto o post sugerido ser o post imediatamente abaixo e não este.

Para a próxima sê mais cauteloso para não fazeres má figura.

 
At 8:53 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Eu sou contra a pena de morte também, nada que atente a vida humana.
Quanto ao caso da violação existiu um acto sexual que não foi consentido por uma das partes, pelo contrário, num acto sexual normal existe o consentimento de ambos, logo o casal é responsável pelo seu acto. E aqui é que se tem de focar a nossa atenção. Para uma correcta educação da sociedade.
Foram tomadas medidas para começar desde cedo a educar? Quais? Quando? Como? Nem a simples disciplina de educação sexual está em funcionamento...
Concordo que nos outros países existiu uma diminuição a longo prazo do aborto. É a mais pura das verdades. Mas essa diminuição, pouco significativa aliás, está a decorrer após anos sucessivos de um aumento explosivo da taxa de abortos. Logo por aí questiono o quanto ele será eficaz.
E a mim, não me vão conseguir nunca convencer que com a liberalização o número de abortos vai diminuir e este vai ser usado como método contraceptivo com toda a certeza!

Infelizmente, o nosso Mundo - não apenas Portugal - não está repleto de mentes cosmopolitas e que sejam capazes de ter debates acesos, interessantes e correctos (piada para quem anda para aí a dizer asneiras e não se sabe comportar perante uma questão séria e da maior importância, comentando com post insultuosos!!!), e para uma grande parte da população, ter o aborto despenalizado, vai ser apenas uma questão de ter mais ou menos uma boca para alimentar.

A minha opção pode não ser 100% coerente, admito isso sem nenhum problema, tem bastantes falhas e não é justa para todos, mas também tenho a certeza que não existe nenhuma perfeita e totalmente correcta. Quem a achar que tem... Está errado!

Por último, ganhe quem ganhar, resta-me desejar que sejam tomadas as medidas para que seja um solução que contribua para uma sociedade melhor. O que nós todos queremos, embora com opiniões diferentes.

Um abraço Aires
Flávio Miguel
(mais uma vez desculpa o comentário tão grande mas eu gosto disto hehehe)

 
At 9:06 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Esqueci-me só de dizer uma coisa.
Eu entendo muitos dos argumentos que o sim defende, nomeadamente a igualdade de oportunidades entre pobres e ricos. Mas como eu sou totalmente contra o aborto, queria era que ninguém tivesse acesso a ele.
Não sei como vai ser tratado isto, já agora perguntava para ver se alguém mais informado me esclarece.
Num hospital, os abortos, como me parece lógico, serão realizados (caso o sim ganhe) no bloco de Obstetrícia. Infelizmente alguns defensores do "Não" usam o argumento estúpido de quem fica à frente na lista de espera. Um doente cardíaco ou um aborto? Esta questão não se coloca sequer porque são departamentos completamente diferentes e autónomos nos hospitais centrais. Temos que defender a nossa posição mas com argumentos reais e sérios. Mas eu gostava de saber se o aborto terá alguma espécie de tratamento prioritário na colocação nas listas de espera, em relação às outras intervenções cirúrgicas. Por exemplo, num hospital uma senhora decide fazer uma operação que a impeça de ter mais filhos, uma laqueação das trompas, para evitar ter que abortar no caso de uma gravidez indesejada. Entra na lista de espera. Uma outra decide abortar. Como é um caso com tempo limite, passa à frente da outra? Uma situação perfeitamente possível de acontecer num bloco operatório. Se alguém souber como funcionaria, eu agradecia a explicação porque não sei mesmo.

 
At 12:47 da tarde, Blogger airesff said...

Flávio,

Eu sei que és contra a pena de morte.

"Quanto ao caso da violação existiu um acto sexual que não foi consentido por uma das partes"

Sim, mas e depois? A vida aí gerada não é vida?

"Para uma correcta educação da sociedade."

A violação é produto de problemas de ordem psíquica que existirão sempre, em qualquer sociedade num número reduzido de indivíduos.

"E a mim, não me vão conseguir nunca convencer que com a liberalização o número de abortos vai diminuir e este vai ser usado como método contraceptivo com toda a certeza!"

Não concordo. A liberalização, ou a responsabilização dos hospitais públicos pelos números oficiais sobre o aborto é a única forma de acontecer o que acontece em França, por exemplo: a rapariga pressionada pelo namorado que é convencida pelo médico a não abortar. Sem liberalização, ou melhor ainda, se o aborto for punido, qual a rapariga que vai procurar um médico? Procurará antes uma clínica onde possa practicar aborto ilegal sem mais perguntas. É essencialmente por isto que, se o 'sim' ganhar, o número de abortos será reduzido.

"tenho a certeza que não existe nenhuma perfeita e totalmente correcta. Quem a achar que tem... Está errado!"

Precisamente. Por isso mesmo o 'sim' é a opção menos hipócrita. Assim, darás a cada um o direito de decidir o que quer fazer, sem moralismos ou constrangimentos e hipocrisias, contribuindo para a diminuição e esclarecimento das mulheres menos informadas e mais pobres que não podem ir a Espanha ou que não têm quem as convença a ter um filho sozinhas.

 

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